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Prefeitura Municipal de Anchieta
Memória e Patrimonialismo: 60 Anos Comemorando o 9 de Junho, Dia Nacional de Anchieta
| Comunicação

O dia 9 de junho é de suma importância para a memória histórica e cultural do Brasil, pois assinala o falecimento de São José de Anchieta, figura central na constituição religiosa, linguística e educacional do período colonial. Celebrado como o Dia Nacional de Anchieta, essa data simboliza o reconhecimento do legado do jesuíta nas missões de catequese junto aos povos originários e na fundação de diversas cidades e metrópoles, como a atual cidade de Anchieta-ES. O 9 de junho representa um momento privilegiado de reflexão sobre os processos de construção da identidade nacional e o papel da educação patrimonial na preservação da história e na valorização da memória coletiva.
A cidade de Anchieta-ES, nesta semana dedicada à memória de seu fundador, São José de Anchieta, revive, por meio de festividades cívico-religiosas, os legados deixados pelo Apóstolo do Brasil. Comemorar o dia 9 de junho, Dia Nacional de Anchieta, é, antes de tudo, realizar uma imersão na história e na cultura anchietense, marcada pela forte presença da religiosidade
e pelos traços culturais herdados daquele que é considerado co-padroeiro do Brasil.
Essa data rememora o falecimento do Padre José de Anchieta, ocorrido em 9 de junho de 1597, na então Aldeia de Reritiba, atual município de Anchieta-ES. Conhecido entre os indígenas tupiniquins como Abaréguaçu (“grande padre” ou “grande pajé”), o padre José de Anchieta foi figura central no processo de catequização e no estabelecimento de uma convivência — ainda que marcada por tensões — entre os jesuítas e os povos originários. Seu biógrafo, Pe. Simão de Vasconcelos, retrata a comoção indígena diante de sua morte:
“Composto o corpo e amortalhado entre lágrimas e saudades de seus irmãos, vestido em ornamentos sacerdotais e fechado em uma caixa de madeira, fizeram os índios a demonstração costumada de seu ditoso trânsito, a cujo som foi muito para ver a dos corações de seus índios; atroaram os montes vizinhos seus lastimosos prantos, homens, mulheres, meninos desampararam suas casas e correram a despedir-se de seu benfeitor. Elegeram a seu modo silvestre pregadores, que, rodeando as ruas e terreiros, pregoavam a vozes seus feitos heroicos, sua mansidão, seu amor e os grandes trabalhos que por eles padecera em vida. Queixavam-se ao céu tristemente e mostravam querer também morrer com ele.” (VASCONCELOS, p. 146).
Ao longo da historiografia brasileira, diversos foram os esforços de pesquisadores e agentes culturais para preservar e reconstituir a trajetória do Padre José de Anchieta. Nesse sentido, a “Semana Anchietana”, realizada anualmente, contribui para a valorização das tradições locais, reforçando o sentimento de pertencimento e a identidade histórica do povo anchietense. Como cidade-memória, Anchieta-ES abriga, em suas ruas, práticas e espaços físicos, o diálogo entre o passado missionário e a pluralidade cultural contemporânea.
Foi nesse território, na antiga Missão de Nossa Senhora da Assunção — ou Tupansy, em tupi, “Mãe de Deus” — que o Pe. José de Anchieta, catequizou e conviveu com os povos originários, especialmente os tupiniquins. Segundo a tradição oral e documental, ele era também conhecido como Carairebébé, “homem de asas”, em alusão à sua agilidade.
A devoção ao missionário José de Anchieta ultrapassou os limites da fé, tornando-se também objeto de mobilizações cívicas. O primeiro centenário de sua morte, celebrado em 1697, contou com homenagens em diversas missões jesuíticas da Província do Brasil. No século XVIII, já havia representações iconográficas em Reritiba, como a chegada da pintura do Venerável Padre José de Anchieta em 1708, cuja recepção popular foi marcada por emoção e reconhecimento da ancestralidade indígena:
“Em 1708 chegou à Aldeia de Reritiba a imagem pintada do Venerável Padre José de Anchieta, onde ele tanto tempo vivera e acabara santamente a vida. Ao chegar o quadro, ergueu-se grande pranto, quando o Superior da Aldeia se dirigiu à imagem e lhe perguntou se reconhecia aqueles índios por semelhantes aos seus antepassados que ele próprio cultivara, ou se já tinham degenerado. Organizou-se uma procissão solene para impetrar à Santa Sé as honras do altar, e uma das mulheres da aldeia, que há muito jazia na rede, já quase consumida, ergueu-se exultante diante da imagem e ficou boa de todo.”
(LEITE, Serafim, S.I. Séculos XVII-XVIII. Tomo VI. Imprensa Nacional: Rio de Janeiro, 1945, p. 146).
Foram inúmeras as testemunhas que solicitaram às autoridades civis e eclesiásticas sua canonização. Muitas cartas foram enviadas aos Papas, rogando para que José de Anchieta fosse elevado à glória dos altares. A Princesa Isabel Cristina, regente do Império do Brasil, em 11 de julho de 1877, enviou ao Papa Pio IX, pelas mãos de Dom Vital, uma carta permeada de fé e patriotismo, solicitando a beatificação de Anchieta. Em resposta, no dia 27 de agosto de 1877, o Papa Pio IX escreveu à princesa imperial, expressando o mesmo desejo, e declarou que, tendo Deus querido que as virtudes de Anchieta fossem reconhecidas como heroicas por decreto da Santa Sé, também haveria de confirmar o esplendor dos milagres.
No dia 2 de dezembro de 1887, a vila nova de Benevente da freguesia de Nossa Senhora da Assunção foi elevada à categoria de cidade, recebendo o nome de Anchieta, em homenagem ao fundador. Celebrou-se, em 9 de junho de 1897, o terceiro centenário da morte do Venerável Padre José de Anchieta. O evento envolveu grandes nomes da cultura brasileira, como Joaquim Nabuco, diplomata do Império, o general Couto de Magalhães — destacado estudioso da cultura indígena — e Eduardo Prado, membro fundador da Academia Brasileira de Letras.
Em 1921, foi realizada a primeira romaria ao Santuário de Anchieta. No ano seguinte, foi inaugurado o busto do Venerável no adro do Santuário — considerado o primeiro monumento histórico-religioso do Brasil. A ação foi promovida pelos irmãos religiosos anchietenses Dom Helvécio Gomes de Oliveira e Dom Emanuel Gomes de Oliveira, com o apoio de devotos, consolidando-se como iniciativa pioneira na preservação do patrimônio religioso nacional.
Em 1934, o presidente Getúlio Vargas decretou feriado nacional no dia 19 de março, estabelecendo que a cidade de Anchieta-ES passaria a celebrar oficialmente essa data, o que perdurou até meados da década de 1970.
No ano de 1964, segundo jornal carioca da época, o Venerável Pe. José de Anchieta teve sua autorização para cultos cívicos reconhecida, o que reafirmou sua importância histórica, cultural e religiosa como um dos grandes personagens da formação da nação brasileira.
Em 9 de junho de 1965, por ocasião das comemorações do Dia Nacional de Anchieta, a cidade de Anchieta-ES recebeu a visita do Núncio Apostólico Dom Sebastião Baggio, bem como de representantes da Embaixada da Espanha. Na mesma ocasião, foi inaugurado o Museu Padre José de Anchieta, que neste ano celebra seu sexagésimo aniversário, consolidando-se como um relevante espaço de memória e história do legado do missionário jesuíta para o Brasil.
Nesse mesmo ano, por meio do Decreto nº 55.588, de 18 de janeiro de 1965, o então presidente Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco instituiu oficialmente o “Dia de Anchieta”, a ser celebrado anualmente em todo o território nacional, no dia 9 de junho. O ato solene ocorreu na cidade de Anchieta-ES, com a presença do prefeito Moacir Assad, um dos principais promotores das comemorações e da causa do Venerável.
No dia 22 de junho de 1980, o Papa João Paulo II beatificou o Venerável Pe. José de Anchieta, conferindo-lhe as honras dos altares e sancionando oficialmente seu culto religioso no Brasil. No ano de 1997, a cidade celebrou o IV Centenário da Morte do Beato, com a restauração do Santuário de Anchieta (1994–1997), incluindo a inauguração e readequação do Museu Nacional do Beato José de Anchieta, instalado na antiga residência dos padres e irmãos jesuítas, anexa à igreja-santuário.
Em 3 de abril de 2014, o Papa Francisco canonizou José de Anchieta por honra e mérito, proclamando-o Apóstolo do Brasil e reconhecendo sua atuação como fundador da antiga Missão de Nossa Senhora da Assunção, atual cidade de Anchieta-ES. No ano seguinte, em sua 53.ª Assembleia Geral, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) conferiu-lhe o título de Co-padroeiro do Brasil, destacando sua profunda devoção à Bem-Aventurada Virgem Maria, com quem intercede pela nação brasileira e pelo mundo.
Neste ano de 2025, celebram-se os 60 anos da institucionalização do Dia Nacional de Anchieta. Essa data não apenas reverencia a figura histórica do padre jesuíta, mas reafirma o compromisso com a preservação da memória coletiva e o fortalecimento da educação patrimonial no município. A continuidade dessas celebrações garante a transmissão das tradições às novas gerações, promovendo o conhecimento crítico e sensível sobre os processos de formação histórica e cultural do Brasil, tendo São José de Anchieta como símbolo do diálogo entre culturas, fé e educação.
Texto: Prof. Ivan Petri Florentino
Coordenador de Patrimônio Histórico e Cultural - portaria n°701/2025
Prof. Robson Mattos dos Santos
Gerente Municipal de Cultura e Patrimônio Histórico- portaria n° 700/2025
Fonte: Texto: Prof. Ivan Petri Florentino e Prof. Robson Mattos dos Santos | Retrato de Anchieta, 1920, por Oscar Pereira da Silva..